O INTERIOR CONECTADO.

4.4.14

DISCURSO DE EDUARDO CAMPOS NA TRANSMISSÃO DE CARGO DO GOVERNO.

VOZ DO INTERIOR.
















Há cinquenta anos, em 1º de abril de 1964, o Governador Miguel Arraes deixava este Palácio sob escolta militar, em direção à prisão e depois ao exílio, por se recusar a renunciar ao mandato que lhe fora outorgado pelo voto democrático dos pernambucanos.
Arraes saiu pela porta da frente e por ela voltou mais duas vezes, nos braços do povo, que com alegria lhe devolveu o mandato que tentara lhe usurpar o arbítrio.
Hoje, depois de dois mandatos, deixo o Palácio do Campo das Princesas pela mesma porta da frente, rumo a novas lutas a que me levam compromissos sociais, históricos e políticos.
Peço permissão para relembrar trecho do discurso que proferi ao assumir, pela primeira vez, o Governo do Estado, em 1º de janeiro de 2007: “Vamos construir um tempo novo, em que os que sempre perderam vão começar a ganhar. Um tempo em que as vítimas não serão mais culpadas. Um tempo em que a indignação seja a ferramenta para enfrentar a pobreza, a miséria, a violência e a exclusão”.
Busquei honrar esses compromissos, empenhando neles todas as minhas forças, com o apoio de uma equipe de servidores públicos dedicada e leal; dos Poderes Legislativo e Judiciário; do Ministério Público e do Tribunal de Contas; do Governo Federal e dos governos municipais; dos partidos aliados; dos movimentos sociais; dos trabalhadores; dos empresários e da Imprensa. E, principalmente, com o apoio do povo de Pernambuco, que nunca permitiu que fraquejássemos e deixássemos estreitar os caminhos da mudança.
Com unidade e determinação tentamos fazer o que mostrava-se o mais necessário, mobilizando para tanto todos os de boa vontade e tornando assim possível o que parecia irrealizável.
O trabalho muitas vezes me furtou do convívio familiar, embora minha família tenha sempre participado ativamente de toda minha trajetória política. Registro, com emoção, o meu agradecimento, pelo apoio e compreensão, a Renata, Maria Eduarda, João, Pedro, José, Miguel, Ana, Antônio e à minha avó Madalena, em nome de toda a família.
Ao meu lado, nos bons e nos maus momentos, sempre o Vice-Governador João Lyra Neto, que hoje assume a condução do Governo do Estado. Sua experiência administrativa e seu descortino foram valiosos para todos nós e asseguram a preservação e ampliação de tudo que até agora construímos juntos.
Nosso Governo lega aos pernambucanos um Estado melhor para se viver. Renovou-se a autoestima coletiva; revitalizou-se a atividade econômica; reduziu-se a desigualdade social.
Pernambuco cresceu a índices superiores aos do Nordeste e aos do Brasil, a partir de um modelo de gestão reconhecido nacional e internacionalmente e premiado pelas Nações Unidas.
A atração de grandes empreendimentos industriais estruturadores abre para o Estado a inserção competitiva nos mercados internacionais, moldando um novo patamar para o futuro. Iniciativas no campo social, como o Pacto Pela Vida; os novos hospitais públicos e as UPA’s; a multiplicação das escolas públicas de referência; os investimentos nos transportes, no saneamento e no abastecimento d’água são marcas que ficam e justificam, neste momento, o sentimento – que é de todos – do compromisso cumprido.
Avançamos no mundo rural, junto com as representações dos trabalhadores do campo, desenvolvendo projetos de acessos rodoviários, fornecimento d’água, de energia elétrica e sementes, formação de mão de obra e de combate ao desemprego, ao lado de ações de regularização fundiária.
Outras marcas são igualmente importantes, como a interiorização de projetos culturais; a atração de grandes eventos artísticos, esportivos e empresariais; a transparência dos atos do Governo do Estado; a ampliação de recursos para as áreas de ciência, tecnologia e meio ambiente e as novas políticas de gênero.
Senhoras e Senhores.
A memorável história das lutas libertárias de Pernambuco nos transformou em um povo altivo, que nunca hesitou em bater-se por suas convicções em episódios como a Revolução Pernambucana, de 1817; a Confederação do Equador, de 1824 e a Revolução Praieira, de 1848.
Espírito de justiça também presente nas reivindicações dos trabalhadores nas primeiras décadas do século passado; nas Ligas Camponesas; na Frente Popular liderada por Miguel Arraes e Pelópidas Silveira e na resistência à ditadura militar.
Luta esta em que tantos foram presos, torturados, exilados e assassinados, para que pudéssemos estar aqui hoje, nesta solenidade democrática, cinquenta anos depois do Golpe. Mas de forma alguma é o desejo de revanche que me faz recordar. Esses fatos pertencem à História, embora seja dever relembrar – especialmente aos mais jovens – que no dia 1º de abril de 1964 a Praça da República, onde agora estamos, amanheceu tomada por tropas e tanques e um governador foi preso por se recusar a desonrar o mandato que lhe fora outorgado pelo povo pernambucano.
Senhoras e Senhores.
Temos outras questões à frente. O Brasil depara-se com o sentimento de que o ciclo de modernização econômica e social precisa se renovar. Percebe-se um desejo forte por um salto de qualidade na vida nacional. Há um sentimento generalizado de que o País, depois de um período de avanços sociais e econômicos, parou de melhorar. Perdeu terreno não apenas em relação aos BRICS (Índia, Rússia, China e África do Sul), como também na comparação com outros países da América do Sul – que continuam a crescer apesar da crise.
Queremos voltar a crescer, preservando as conquistas até aqui asseguradas - mas que não bastam. Deixou isso evidente a juventude que foi às ruas no ano passado e expressou demandas fundamentais, de quem sabe estar apenas no limiar da cidadania plena.
Manifestou a juventude o desejo de melhoria da qualidade de vida, por meio da crítica aos serviços de transporte, de segurança, saúde e educação. Demonstrou sua inquietação com os descaminhos da economia e o recrudescimento da inflação. As ruas foram inequívocas na rejeição à corrupção e escancararam a urgente necessidade de profundas mudanças nas instituições e nas práticas políticas.
Para tanto, é prioritário superar a velha política do clientelismo, do abuso do poder econômico e das superadas disputas personalistas que obstruem o diálogo e o reconhecimento dos pontos de vista dos adversários.
Há um clamor coletivo por novas respostas. São as demandas de quem não se contenta meramente em sair da linha da pobreza. O desafio para o ciclo que se abre é o de interpretar e solucionar estas demandas.
Os brasileiros têm o direito de contar, em todas as instâncias da administração pública, com instrumentos e serviços capazes de encaminhar suas pendências e atender suas necessidades. Com soluções simples e eficientes, que aproximem o povo do Estado, em respeito à população e aos deveres dos governantes.
Uma economia mais produtiva e competitiva requer direção estratégica, com argumentos sólidos e planejamento, a fim de afastar as incertezas que hoje adormecem a disposição ao investimento, seja público, privado interno ou o investimento direto estrangeiro.
O País precisa voltar a ser pensado em uma perspectiva de longo prazo, como já foi em décadas passadas. Para tanto, não basta a tecnocracia oficial. É um trabalho que reunirá todos que, de alguma maneira, possam contribuir, nas organizações sociais, nas representações de classe, nas universidades e instituições de pesquisa.
É necessário fundar um novo pacto social e político, baseado na nova realidade do Brasil. Pactos houve para vencer o regime autoritário; extinguir a hiperinflação e estabilizar a economia. Pacto houve para assegurar melhor distribuição da riqueza entre os mais pobres.
No entanto, agora o País reivindica mais do que uma nova agenda. O País movimenta-se, orientado por claros compromissos progressistas e inovadores da prática política, movimento capaz de animar o nosso povo para o desafio da construção de um novo tempo – que vai além do equilíbrio econômico e de uma divisão de renda mais justa. O Brasil precisa e quer a união dos brasileiros. E se Pernambuco se uniu, o Brasil também irá se unir.
Há poucos meses, ao lado de Marina Silva, tivemos a honra de propor essa nova agenda, documento que encontra-se em discussão em diversos círculos. O mais amplo debate é imprescindível porque a construção dessa nova agenda não é tarefa apenas de um grupo de pessoas ou de um conjunto de partidos políticos. Deve ser – e será – resultado da reflexão e da decisão dos brasileiros.

Sabemos que podemos fazer mais, com mais eficiência e rapidez, balizados por cinco grandes eixos: o aprofundamento das relações democráticas; o desenvolvimento sustentável; massivos investimentos na educação, inovação e cultura; em programas para melhor qualidade de vida e em um novo urbanismo, voltado para o renascimento das grandes cidades, incluindo com destaque o combate à violência.
Cumprir esta agenda é um desafio, não uma impossibilidade. E os desafios se vencem com coragem, determinação e união. Já celebramos acordos em torno de outros pactos e cumprimos outras agendas no passado. Seremos capazes de vencer agora as novas metas. E mais possível e rápida será esta vitória quanto mais coesão houver em torno de um outro pacto – o Pacto Federativo – que estabeleça as responsabilidades de todos os Poderes, em todos os níveis, na consolidação da nova agenda.
Senhoras e Senhores.
Sei que Pernambuco novamente vai ajudar o Brasil a encontrar novos caminhos. É a solidariedade pernambucana, sua capacidade de luta e de paz, que nos impele ao desafio de levar aos brasileiros as imensas potencialidades que aqui se realizaram nesses dois períodos de Governo.
Saio do Governo do Estado com a esperança revigorada. A esperança de um Brasil democrático; com educação de qualidade para todos; generoso com as diferenças; mais equilibrado regional e socialmente, que cuide do nosso maior patrimônio humano: um povo diversificado em sua expressão cultural e consciente do nosso patrimônio natural.
Levo comigo antigas e sábias lições, transmitidas pelo meu avô, Miguel Arraes. Dele aprendi o essencial para a vida pública: a defesa da democracia, da soberania nacional, a crença na organização popular e o compromisso com os excluídos.
Fui, em todos esses anos, como meu pai Maximiano Campos me ensinou, servo do ideal e do sonho. Os mesmos ideais e os mesmos sonhos que agora impulsionam a caminhada iniciada hoje, com os pés no chão e os olhos no futuro, atento ao que anunciou o pernambucano Gilberto Freyre:
Eu ouço as vozes
Eu vejo as cores
Eu sinto os passos
De outro Brasil que vem aí
Mais justo
Mais equilibrado
Mais brasileiro.
Muito obrigado.
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